19 de October de 2021

BSGI: uma história de Humanismo em ação

Há 61 anos, em 19 de outubro de 1960, iniciava-se a impressionante trajetória da Associação Brasil SGI

Festivais: 1974 (à esq.) e 1984

Kensuke Kamata: um grande veterano da BSGI!

Tudo teve início com a frase: “sonhei que fui ao México”. Essa fala é de Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai que sonhara com o budismo Nichiren sendo praticado por pessoas de todas as etnias do planeta. Após o falecimento de Toda, Daisaku Ikeda, então com 32 anos, foi empossado como terceiro presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio de 1960. Como discípulo e sucessor de Toda decidiu expandir as fronteiras da organização, até então restrita ao arquipélago japonês. Poucos meses depois da posse, ele e uma pequena comitiva partiram para as Américas a fim de plantar as sementes da filosofia humanística do budismo Nichiren no Novo Mundo. Visitaram os EUA, o Canadá e o Brasil.


A história da Soka Gakkai no Brasil é marcada por grandes eventos que despertaram milhares de pessoas para este budismo maravilhoso. A meta da BSGI sempre foi a de proporcionar momentos que possibilitassem o desenvolvimento e a capacitação de forma que cada indivíduo obtenha vitória em todos os campos de atuação: família, trabalho, escola, sociedade em geral. Estimulando a autonomia do ser, este se torna o protagonista de sua vida, capaz de promover a sua revolução interior, consciente de seu papel como líder para tornar o mundo um lugar melhor.


Para contar um pouco dessa incrível jornada, convidamos um dos mais queridos veteranos da propagação em terras brasileiras: Kensuke Kamata.


“Em 1974, eu era coordenador do Núcleo Masculino Jovem e vivia o momento mais crucial de minha vida”, iniciou o sr. Kamata. O presidente Ikeda era ansiosamente aguardado e um grande festival estava sendo preparado para a sua recepção. O local escolhido era o Estádio do Pacaembu. O país vivia sob o Regime Militar e a entrada do presidente Ikeda fora negada. O então jovem Kensuke contou que não sabia do fato e ficou a par do ocorrido poucos dias antes do grande festival. No alto do camarote vip, duas cadeiras vazias simbolizavam o veto governamental aos ilustres convidados de honra. O festival se iniciou e a comoção generalizada entre participantes e público foi nítida. “Um clima de derrota absoluta tomou conta de mim. No final, não consegui conter as lágrimas”, contou Kamata.


Em 1966, quando o presidente Ikeda esteve pela segunda vez no Brasil, houve grande restrição à sua liberdade de locomoção, sendo seguido ostensivamente por integrantes da polícia federal. Mas o país ainda não havia mergulhado totalmente no regime de exceção, cujo recrudescimento só se deu em 1968, com o Ato Institucional nº 5 (AI-5).


Toda a liderança da BSGI, da época, decidiu que transformaria aquela derrota numa estrondosa vitória. Paralelamente a isso, Kamata vivia seu inferno pessoal. Estava desempregado, sem dinheiro sequer para abastecer sua casa com o mínimo de mantimentos e sua esposa encontrava-se gravemente enferma. Com o coração ferido por todos os fatos acima descritos, escreveu ao presidente Ikeda uma carta de próprio punho se desculpando por sua condição de derrota. “Recebi uma resposta que mudou toda a minha vida e atitude dali então”, ressaltou. Naquela carta estava redigido um carinhoso poema:


Meu discípulo
deve desbravar
e voar sobre os difíceis
campos e as íngremes
montanhas.


Em abril de 1974, Daisaku Ikeda


A partir de então, o jovem Kensuke se levantou e alçou voo por sobre as escarpadas montanhas das adversidades e orou com o fervor de um discípulo decidido a varrer a escuridão que empalidecera sua vida momentaneamente. Determinou que mudaria todas as circunstâncias e que a sociedade brasileira haveria de reconhecer seu Mestre como um grande líder humanista.


Pouco tempo depois dessa decisão, conseguiu um emprego em uma grande empresa onde permaneceu por décadas e sua esposa recuperou a saúde completamente. “Nunca mais na vida esmoreci. As palavras do poema ressoaram e ressoam fortes ainda em meu coração e eu abracei a causa de cultivar a filosofia humanista em meio às pessoas deste país que escolhi como lar”, enfatizou Kamata.


Toda a BSGI seguiu pelo mesmo rumo. Em meio a tantas adversidades, seus integrantes buscaram reverter aquela derrota de 1974 com vigor e coragem. Uma das grandes vitórias que se seguiu foi o convite do governo na capital federal para que a BSGI participasse do aniversário de 15 anos de Brasília, em 1975. A BSGI compareceu com milhares de figurantes num comboio formado por dezenas de ônibus nunca antes visto. E, nos anos seguintes, as conquistas e os reconhecimentos foram muitos e de várias formas, até finalmente chegou o ano de 1984.


Todos os participantes e público (que haviam sido previamente selecionados), determinaram em seus corações que desta vez não haveria de se repetir o mesmo fato de 20 anos antes. O Ginásio do Ibirapuera foi o palco desse evento e o já nem tão jovem Kamata estava à frente do evento, como coordenador geral. Na véspera do festival, sábado, a grande surpresa. “Todos se espantaram, pois era totalmente inesperado, quando o presidente Ikeda disse que queria ir ao ensaio geral para se encontrar com o maior número de companheiros possível”, emocionou-se. E emendou com orgulho: “Desta vez, em 1984, foi diferente, o convite para a visita partiu dos próprios governantes do Brasil”.


Os milhares de figurantes em roupas comuns de ensaio, bem como o público, foram tomados pela grata surpresa sem precedentes, ao serem informados que o ilustre convidado estava ali para encontrá-los. “Naquele momento eu senti que conseguira fazer a ‘transformação do veneno em remédio[i]’ em minha vida”. A explosão de alegria foi indescritível! Quem testemunhou esse momento jamais se esquecerá. O presidente Ikeda desceu até o centro do ginásio e deu uma volta com os braços estendidos acima da cabeça, saudando a todos, ao som de um ininterrupto “é pique, é pique, é pique; é hora, é hora, é hora” e aplausos. O presidente Ikeda disse, na ocasião, que se tratava do “maior festival do mundo”. Os 18 anos de ausência estavam sendo expressos naqueles minutos que se eternizaram em lágrimas de incontida emoção. “Esse momento eu trago como um tesouro da vida”, confidenciou Kamata.


Após esse festival, a BSGI viveu um crescimento exponencial e, em paralelo, o reconhecimento da sociedade como uma organização de propósitos humanistas, que tem na educação e na cultura suas maiores bandeiras de luta para a concretização de uma sociedade pacífica, calcada no máximo respeito à dignidade da vida humana.


Nove anos se passam e 1993 chegou com uma última e derradeira visita do presidente Daisaku Ikeda ao Brasil. Desta vez, Kamata era o responsável pela agenda e os contatos com as autoridades públicas. Pode, portanto, acompanhar o visitante e testemunhar a deferência com que ele foi recebido em cada local onde esteve. Tudo foi inesperado e inusitado, desde a chegada, quando o então presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), o saudoso Austregésilo de Athayde o aguardava ansioso. Convidado a buscar repouso em local mais confortável, devido a idade (estava com 95 anos), respondeu ao interlocutor: “eu esperei a vida toda para encontrar meu Mestre. Posso esperar mais algumas horas”. Quando finalmente se encontraram, Kamata confessou total assombro quando Athayde disse a Ikeda: “Meu Mestre, Sensei, que felicidade!”.


Athayde foi quem possibilitou ao presidente Ikeda uma das mais altas horarias da cultura brasileira, uma cadeira como sócio correspondente na ABL. Ao longo dos anos que se seguiram até hoje, dezenas de honrarias governamentais e títulos acadêmicos se somaram a este. O Brasil finalmente reconhecia a pessoa de Daisaku Ikeda, como o grande estadista sem Estado, um pacifista, uma personalidade voltada às causas mais ilustres e nobres. Tudo isso se deve à luta incansável de centenas de milhares de pessoas anônimas, do povo, que se forjaram como grandes valores humanos, a partir de uma luta focada nas pessoas, na filosofia humanística, e a BSGI é hoje, graças a todos esses bravos companheiros, uma instituição de grande relevância no cenário cultural brasileiro.


Parabéns BSGI pelos 61 anos de grandes vitórias!


 






[i] O princípio budista “transformação de veneno em remédio” (hendoku iyaku, em jap.) significa que os desejos mundanos e sofrimentos podem ser transformados em benefícios e iluminação por causa da virtude do poder da Lei Mística. O Sutra do Lótus é comparado a um grande médico e daí essa imagem da capacidade de transformar veneno em remédio. Nichiren Daishonin ensina que qualquer problema pode ser transformado em grande felicidade e realização. Fonte: http://www.seikyopost.com.br/budismo/como-transformar-veneno-em-remedio



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